sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os produtos da eleição

Aluisio Azevedo Jr.*

Recentemente, resolvi assistir à Propaganda Eleitoral na TV, para conferir as opções de voto que o eleitorado potiguar dispõe para 2010. Gato, cachorro, papagaio, tem bicho de toda espécie. Até Miguel Mossoró e Geraldo Forte estavam de volta, por lá, como opções anarquistas envelhecidas.

Para meu desalento, os políticos que se propõem a preencher vagas no Executivo e no Legislativo são, em sua maioria, os velhos e novos profissionais do ramo.

Na Câmara Federal, o RN, um dia, revelou um Djalma Marinho ao país. Agora, corremos o risco de encaminhar bibelôs emplumados, bonecos, velhos e novos, sem analisar seus desempenhos e posturas.

Na disputa ao Senado, um jogo de interesses e mensagens desconexas. Ninguém sabe quem é quem, num entrançado de oposição e governo, ao sabor das conveniências pessoais e interesses indiretos.

Mas, nem tudo foi surpresa desagradável.

Reconheci, no Professor Joanilson Rego, uma opção muito interessante para o Senado. Ele foi o “único” candidato que lembrou as funções e atribuições de um Senador, e demonstrou ser capaz de exercê-las, com boas argumentações.

Para a Câmara Federal, e para o Legislativo Estadual, após ouvir tantos “vote 2 .. 1.. vote 4 ..., eu disse 4 ...”, fiquei com a impressão de que eles preferem ser apenas números, mesmo.

Talvez esteja na hora de aprendermos a votar em Partidos, não em candidatos. E, nessas casas, os partidos mais aguerridos, lutadores, são imprescindíveis. São os mais indicados para balancear forças com os conhecidos “profissionais” menos incorruptíveis. Portanto, PSOL e PSTU, bons exemplos, devem ser considerados na escolha do eleitor.

Bem, para a presidência da República, como todos sabem, não encontramos nenhum candidato com cacoete de liderança política. É um vazio total. Excluindo-se Lula, o Brasil não consolidou nenhuma liderança nacional, nos últimos anos. Ciro Gomes e Aécio Neves ficaram pelo caminho.

O autêntico Plínio mostra-se perdido no tempo. Se atualizasse um pouco suas idéias com as realidades do século XXI, sem o tal muro que ele tanto exorta, seria uma alternativa a pensar.

Serra, com notícias requentadas de 2009, abaixando o nível de sua campanha, ainda busca a “bala de prata”, o último tiro. Treinou tanto para conseguir sorrir, fez risoterapia para perder a sua “sisudice”, mas não teve jeito. Sua face e discurso pró-genérico estão mais para hipocondríaco, como diria Plínio Sampaio.

A Dilma, nossa panzer, que se inscreveu na mesma clínica de risoterapia de Serra, mas faltou a algumas aulas também, foi a única que lembrou do 7 de setembro, uma data cívica tão importante para o Brasil. Com boa firmeza de discurso (seu ponto forte), receberá votos que nunca teria, caso não contasse com a tutela do atual Presidente.

De resto, não posso aconselhar, pois ninguém tem o domínio exclusivo da verdade. A Democracia reafirmará sua importância, ao permitir contraditórios (coisa que a imprensa brasileira abomina).

Mas, senhores eleitores, lembrem dos pequenos partidos. Eles são importantes para desintoxicar as Câmaras Legislativas.

Para o Senado, lembrem da oportunidade dupla (são duas vagas) de renovar, de qualificar.

Para o Governo Estadual, reveja a composição de alianças e tente entendê-las (não será tarefa fácil).

Para a Presidência, se deseja encontrar um Juscelino, um Brizola, um Tancredo, um simbólico Lula, esqueça.

Todavia, não deixe de votar.

Vote, com a convicção de que estamos escalando um daqueles operários da seleção de Dunga. Dentre candidatos já postos, sem maior brilho, apenas esforçados, temos a obrigação de escolher os elegíveis.

* Aluísio Azevedo Jr. é empresário, analista de sistemas, escritor e pintor.

O futuro conta mais

Osíris Silva*

As campanhas eleitorais no Brasil servem, basicamente, para os candidatos repetirem, sem constrangimento, monótonas promessas em grande parte fantasiosas e sem fundamento.

Muito pouco se extrai de concreto de seus discursos. Exemplos: dentre tantos, compromissos do candidato Lula, assumidos na campanha de 2002, de criar 10 milhões de empregos, zerar a fome do brasileiro desvalido, promover a reforma agrária e construir moradias para os sem teto e sem rumo.

De roldão são também levadas questões fundamentais que afetam diretamente o cidadão, como os relativos aos graves problema das filas do Sus, da péssima qualidade da saúde e da segurança pública, do africano sistema de saneamento básico e de urbanização das cidades, da precariedade de nossa malha viária e dos obsoletos complexos portuários e aeroportuários; e, também, as questões atinentes ao sistema educacional enredado em dificuldades crescentes, como om confuso e pouco eficiente Enem, que se refletem nos assombroso índice de analfabetismo da população brasileira.

Com efeito, de acordo com pesquisas do Mec, o Brasil, consoante dados de 2008, tem cerca de 19,1 milhões de analfabetos (10% da população), dos quais 50% concentram-se em menos de 10% dos municípios do país. Ou seja, em pleno século XXI há, em nosso país, quase 20 milhões de cidadãos que simplesmente não sabem ler nem escrever. Que, entretanto, votam. Os dados, relativos ao “Mapa do Analfabetismo”, segundo avaliação do Ministério da Educação (MEC), apesar de não serem inéditos são "alarmantes", pois “abrangem pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples”.

Mais grave ainda: considerando-se os dados relativos ao "analfabeto funcional", que inclui as pessoas com menos de quatro séries de estudo concluídas – 21% da população ou cerca de 40 milhões de pessoas – infere-se que em torno de 60 milhões de brasileiros, ou quase um terço de nossa população não conseguem sequer assinar o nome na hora de votar. Desse contingente, mais de 52% concentra-se no Nordeste, justamente a região que abriga os grandes currais eleitorais dominados pelos “coroneis” que conservam sob seu jugo os rumos da política em nosso país.

Mesmo considerando que, no mundo, segundo a Unesco (órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), registram-se mais de 900 milhões de analfabetos, comparativamente ao quadro internacional, contudo, da elevada taxa de analfabetismo exibida pelo Brasil decorre que 55% dos países apresentam melhor desempenho que o nosso.

Em relação à América Latina, 72% das nações do continente têm taxa de analfabetismo menor que a brasileira. Ou seja, o quadro é resultado direto, ao que observo, de ausência de plano nacional de educação consistente, desprovido de simulacros, cabotinismos e arroubamentos demagógicos deste ou de quaisquer outros governos.

O analfabetismo é de fato o exemplo perfeito da exclusão social. Gera um tipo de (sub) cidadão que não dispõe de pleno discernimento sobre o “bom e o mau”, mentiras e ardis, quem engana ou usa de artimanhas para conseguir impositivamente manter domínio político sobre corações e mentes das pessoas dessa classe social. O analfabeto é, antes de tudo, um indefeso em grau absoluto. Contenta-se com muito pouco. Por isso, torna-se presa fácil na hora de tomar decisão crucial em sua vida, como trocar seu voto por dentadura, par de sandálias, consulta médica ou bolsas sociais que, sem oferecer-lhe alternativa em termos de emprego e renda, tende a conservá-lo manietado, sem horizontes, a favores oficiais, indefinidamente.

Entendo que a campanha política deveria constituir-se no momento máximo para o efetivo exercício da cidadania. Os candidatos têm a obrigação moral de vir a público, contando com os extraordinários recursos que oferecem os meios de comunicação, tendo em vista precipuamente analisar os problemas nacionais, propondo-lhes soluções realistas e viáveis do ponto de vista orçamentário.

O povo não sabe, mas, orçamento é um só, dispõe de estreita margem de manobra. Trata-se do documento que discrimina a receita e a despesa da administração pública para o exercício seguinte, encaminhado anualmente pelo Poder Executivo à aprovação do Poder Legislativo.

Um dado importantíssimo, mas amplamente deturpado, à conveniência da administração no poder e das representações parlamentares: alterar a função “despesa” só é possível, legalmente, única e tão somente sob a condição de que se apresente alternativa de “receita” na mesma proporção a da despesa que se propõe criar.

Relativamente a este aspecto é que os políticos desonestos mais se beneficiam ao fazerem promessas desprovidas de fundamento. Sabem, portanto, que estão mentindo desbragadamente ao povo e à nação, porquanto o que estão prometendo, sem a devida cobertura orçamentária, não passa de promessa vã, sem fundamento e enganadora. Mas, e daí? O que importa pra valer não é simplesmente ganhar eleição?

Constrange constatar, mas é assim que, em nome de uma soi-disant governabilidade, palavra da moda criada para legitimar acordos políticos subterrâneos, vêm as naturais acomodações, os acertos partidários, o toma lá dá cá sem fim que se sucedem às eleições. O fingir desconhecer que cada senador custa à nação abusivos R$ 200 mil reais por mês; ou que o Congresso gastou quase R$ 4 milhões de reais em horas extras de julho a 23 de agosto último, período em que as duas casas (Senado da República e Câmara dos Deputados) encontravam-se em recesso.

Simula-se também desconhecimento sobre fatos da administração pública que gerarão grandes dificuldades ao país futuramente. Segundo estudos do economista Ricardo Bergamini, “de janeiro de 2003 até dezembro de 2009 a União gerou um déficit fiscal nominal de R$ 708,4 bilhões (4,18% do PIB) com a agravante do aumento real da carga tributária da União em 12,86% do PIB (22,08% do PIB em 2002 para 24,92% do PIB em 2008); e que, de 2003 até 2008 a carga tributária brasileira (Federal, Estadual e Municipal) teve um aumento real em relação ao PIB de 10,66% (Fonte MF)”.

Além do mais, ainda consoante as análises do Prof. Bergamini, “de janeiro de 2003 até dezembro de 2009 o Gabinete da Presidência da Republica gastou (R$ 22,0 bilhões), mais do que com os seguintes Ministérios: Orçamento e Gestão (R$ 18,7 bilhões); Relações Exteriores (R$ 11,5 bilhões); Indústria e Comércio (R$ 11,3 bilhões); Meio-Ambiente (R$ 8,8 bilhões) e Comunicações (R$ 8,6 bilhões). Sem considerar os insignificantes ministérios dos Esportes, Cultura e Turismo (Fonte MF)”.

Lamentavelmente, tais distorções, confrange constatar, vêm se perpetuando a despeito de liderar o cenário político nacional, em larga margem, uma geração forjada nas lutas políticas contra a ditadura dos anos 1960, 1970 e nos movimentos pela redemocratização do país sedimentados na campanha pelas “Diretas Já” levada a efeito no período 1983/1984. Tudo leva a crer que esqueceram os compromissos então assumidos. O passado, ao que parece, pouco conta. Mas, e quanto ao futuro? Vale mais?

* Osiris Silva é economista, consultor de empresas, ex-Secretário da Indústria, Comércio e Turismo, e da Fazenda, do Amazonas, e produtor agrícola.

Caniço agitado pelo vento

Por Públio José*

Um dos fortes objetivos de Jesus em relação aos apóstolos era a preparação deles para os tempos futuros nos quais não se faria mais presente em suas vidas – e que seriam fartos em traições, perseguições, julgamentos dissimulados e morte.

Entretanto, ao longo da mútua convivência, um fato se estabelecera de tal forma que, predominando, poderia prejudicar o futuro trabalho do grupo: a excessiva dependência de todos a Jesus. Ocorrência natural àquela altura dos acontecimentos, uma vez serem eles, homens comuns, ignorantes alguns, desprovidos, até então, de qualquer resquício de poder espiritual. E muito mais ainda em função de terem testemunhado episódios extraordinários, entre os quais a cura de cegos, leprosos, aleijados, a ressurreição de mortos, a conversão de ladrões, assassinos, prostitutas... Fatos a fazê-los ainda mais dependentes diante de convivência tão marcante.

Desapegá-los fisicamente de Jesus – mantendo-os, porém, fieis e alinhados espiritualmente – se fazia fundamental para o sucesso do empreendimento divino, mesmo se revelando missão de difícil execução. Tanto é que, após a crucificação, todos eles (com exceção de Judas, já morto àquela altura) trataram de se esconder das autoridades judaicas e romanas, pois lhes faltava a pessoa confiante, intensa, fascinante de Jesus, tornada imprescindível após três anos de convívio seguro e enriquecedor. Já sabedor das deficiências e fragilidades dos apóstolos, Jesus se antecipa aos fatos (Mateus 11.7b), ressaltando a importância do aprendizado da Palavra e da firme postura mental e espiritual dos agentes que Deus escolhera para divulgar ao mundo seu plano de salvação. E que, ausente Jesus, seriam eles os fieis e resolutos executores de tão importante missão. A arma? A Palavra, apenas.

Empreitada, convenhamos, de fazer boquiaberto o mais crédulo entre os crédulos, uma vez viver-se uma circunstância em que somente pela força das armas se conseguiria acender em um povo a esperança da vinda de um novo tempo. Daí o que está registrado em Mateus: “Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” dizendo de pessoas que se dobram aos ventos das vicissitudes, das dificuldades. E que, aos primeiros sinais dos vendavais da vida, desistem, fraquejam, abandonam sonhos, projetos – deixando-os se esfarelar como capim feito seco pelo passar do tempo.

Mais adiante, Jesus repete: “Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta”. Referia-se a João – o Batista, como exemplo de firmeza na visão, na fé, na concepção espiritual e no destemor com que enfrentara enormes desafios na execução da missão que lhe fora confiada.

Batizar Jesus? João alcançou esse objetivo. Pregar o Evangelho do Arrependimento? Ministrou-o com maestria. Ser o maior entre os nascidos de mulher? Esta qualificação o próprio Jesus lhe imputou. Destacar-se como profeta? Jesus também assim o distinguiu. No mesmo discurso Jesus enfatiza que “o Reino dos céus é tomado por esforço”, referindo-se aos fariseus que impediam o livre acesso a Deus, por se atribuírem intermediários divinos e por infligir ao povo incontáveis sacrifícios – por Jesus já desautorizados. Significando também que a “tomada do Reino” se faz com permanente esforço individual, empreitada reservada, evidentemente, aos que não se dobram, nem se deixam engolfar pelas aflições da vida.

Nem por heresias, modismos, relativismos, falsas doutrinas, nem ilusória erudição secular. Ih! Tempestade à vista! Oh! Guru também! Ih! Vem forte vendaval! Vai virar caniço? Vai se esfarelar?

* Públio José é Jornalista e articulista.