sábado, 15 de maio de 2010

Mãe do PAC: dadivosa ou castradora?

Por Maria Lúcia Victor Barbosa*

Durante muitos anos o PT construiu, retocou e inflou uma única figura com o propósito de se alçar junto com ela ao poder mais alto da República. Tratava-se do sindicalista Luiz Inácio da Silva que, posteriormente, adicionou ao seu nome o apelido Lula.

Nordestino que se fez politicamente em São Paulo, homem de origem simples, parco em letras, mas dotado de exuberante verborragia e linguajar popularesco, era a imagem ideal a se encaixar num partido que se dizia de esquerda. E, assim, nasceu o mito do representante dos pobres e oprimidos no papel de salvador da pátria, do “proletário” versus o patrão explorador, do paladino da luta de classes.

Depois de breve passagem pela elite da classe operária como metalúrgico, Luiz Inácio passou viver de política sem grandes problemas de sobrevivência, pois até casa um companheiro lhe fornecia.

O PT logrou eleger seu “proletário” deputado federal, cujo desempenho foi medíocre. Mas a meta era mais ambiciosa e, finalmente, na quarta eleição presidencial, a cúpula sindicalista do PT foi ao paraíso. Para trás ficou a ideologia, a classe operária, a propalada ética. Se tinha vindo para mudar o PT fez igual ou pior do que os governos anteriores que duramente criticara. Tornou-se como os demais um partido não de esquerda ou de direita, mas do lado de cima. E o deslumbramento foi tanto que um a um de seus quadros, que poderia suceder ao salvador da pátria ao término de seus mandatos, despencou sob o peso de pesadas denúncias carregadas de escândalo de corrupção.

Sem sucessor a criatura dominou o criador. Já não era Luiz Inácio que dependia do PT para existir, mas, sim, os petistas é que estavam ligados de forma inexorável á única pessoa capaz de manter privilégios alcançados e intrinsecamente ligados ao poder. Desse modo, fez-se a obediência total ao “líder” com algumas cenas de servilismo total e abjeto.

Sem alternativas dentro do partido, Luiz Inácio impôs a candidatura de Dilma Rousseff, sucessora na Casa Civil do todo-poderoso José Dirceu que poderia ter sido o candidato ideal após o período Luiz Inácio. Contudo, como outros companheiros, José Dirceu, chamado por uma autoridade do Judiciário de “chefe da quadrilha do mensalão” e deputado cassado foi obrigado a se recolher em atividades de cunho particular sem, é claro, abrir mão do comando à sombra.

Mulher por mulher para ser presidente, o plano petista possivelmente havia previsto Marta Suplicy. Porém, Marta perdera duas vezes as eleições para prefeita de São Paulo e pior, nas duas vezes fora em vão apoiada por Luiz Inácio. Então, algum marqueteiro inspirado soprou nas orelhas presidenciais que sobrara Dilma Rousseff; que fosse ela a escolhida para formar o par perfeito com o pai dadivoso e amantíssimo, uma espécie de santificado "padim padi Ciço". Pai e mãe, que mais poderia agradar tanto ao povo criança do Brasil, que sente a necessidade de ser tutelado? E assim nasceu a imagem da mãe do PAC.

Se a estratégia de conquistar votos em si foi boa, a teoria na prática é outra. Vestir na mulher de fala dura e arrogante, modos viris, carranca denotando constante mau humor, a fantasia do eterno feminino de doçura, tolerância e sedução, era tarefa que nem Duda Mendonça, que esculpiu o “Lulinha de paz e amor”, seria capaz de fazer.

Além do mais, existe uma ambigüidade na figura materna, que foi bem analisada por Gérard Mendel na obra La Revolte contre le pére, une introduction à la sociopsychanalyse. Menciona o autor “a mãe arcaica, fonte de todos os dons, mas também de todos os males (a mãe cruel, Medéia devoradora dos filhos)... Essa mãe é, portanto, castradora”.

Por suas atitudes e palavreado, pela falta de empatia, Dilma está mais para Medéia. Então, para ocultar a verdadeira personalidade da candidata presidencial os marqueteiros tentam fazer dela a sombra do pai patriarcal, Luiz Inácio, a mulher submissa ao seu senhor, aquela que vive em função dele, que o chama de chefe, que não diz duas palavras sem mencioná-lo, enfim, uma criatura despersonalizada.

Ao mesmo tempo, Rousseff seria uma cópia feminina do pai Lula, típico machão latino-americano que faz sucesso dizendo palavrão, contando piadas pesadas, gracejando o tempo todo como se o Brasil fosse um enorme bar onde ele se sentisse à vontade entre companheiros.

Nessa caricatura de si mesma Dilma Rousseff parece perdida, vacilante, confusa, passando a imagem de incompetência política. Nem a plástica nem os demais retoques físicos a que se submete poderiam mudar sua personalidade. Desse modo, a falsa imagem da candidata é um desastre.

Poderá Rousseff ganhar a eleição? Tudo é possível, sobretudo, quando se leva em conta que tem a seu favor a máquina estatal, eficiente em compra de votos através das bondades presidenciais. É um poderio ilegal, descomunal, antidemocrático que nenhum outro candidato dispõe. Sim, ela poderá ganhar, mas depois não se queixem os eleitores, porque onde Dilma passar nem grama vai crescer.

*Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

5 comentários:

  1. Amigo Kennedy, onde você foi arrumar esta jardineira (Maria Lúcia o quê?) para postar adubo orgânico-partidário no blog, e nos ensinar (sic) como fazer a grama crescer. Que coisa mais inútil ler o texto da "socióloga". Poderio descomunal? Nós estamos assistindo a uma blitz coordenada da mídia nacional a favor dos ex-governantes que desejam voltar. Ela chama o maior líder popular que o Brasil revelou nos últimos 30 anos de "santificado padim padi Ciço". Quanto preconceito; poupe-me!

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  2. Leidimar Pereira Murr16 de maio de 2010 às 17:31

    Brilhante e lúcido o texto da socióloga Lúcia Barbosa. A sociedade brasileira se entrega ao fenômeno da vitimização, o social se tornou moeda de troca por votos, os discursos de candidatos palanqueiros nada dizem além de denunciar mesquinhos interesses eleitoreiros. Esse seqüestro da maquina estatal por aqueles que encarnam o poder é hoje no meu entender uma das grandes barreiras ao avanço do processo de (re)democratização do país. Às vezes se tem a impressão de que o Brasil é encarado como se fosse um reinado onde de vez em quando o rei se enfurece com algumas normas que atrapalham as vontades do soberano.

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  3. Licurgo Nunes Neto disse...

    No cenário atual de patrulha ideológica esquerdista, resultado de uma bem sucedida infiltração de inspiração gramsciana nas instituições do país – imprensa, poderes constituídos e “sociedade organizada” –, a corriqueira exposição de fatos cuja existência não está autorizada pelo comitê da verdade petista passa a ser algo digno de nota. Elaborar estes fatos e tentar chegar a uma tese psicanalítica para a empulhação que se chama Dilma – contrariando o padrão petista de pensamento (com perdão da contradição em termos) – é caso para menção honrosa.

    Não somente pela boa vontade em se dedicar ao enfrentamento de uma metódica máquina de mentiras, intimidação e “controle ideológico”, mas, sobretudo, pelo desassombro de se expor à sanha dos cérberos de plantão, deixo meus parabéns e meu incentivo à autora do artigo.

    Quanto à pertinência da análise, basta que se analisem os eventuais contrapontos: não havendo nada além da grosseira desqualificação pessoal, da mentira e do achincalhe, restará claro que elles não possuem argumentos.

    Licurgo N Neto.

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  4. Licurgo Nunes Neto disse...

    No cenário atual de patrulha ideológica esquerdista, resultado de uma bem sucedida infiltração de inspiração gramsciana nas instituições do país – imprensa, poderes constituídos e “sociedade organizada” –, a corriqueira exposição de fatos cuja existência não está autorizada pelo comitê da verdade petista passa a ser algo digno de nota. Elaborar estes fatos e tentar chegar a uma tese psicanalítica para a empulhação que se chama Dilma – contrariando o padrão petista de pensamento (com perdão da contradição em termos) – é caso para menção honrosa.

    Não somente pela boa vontade em se dedicar ao enfrentamento de uma metódica máquina de mentiras, intimidação e “controle ideológico”, mas, sobretudo, pelo desassombro de se expor à sanha dos cérberos de plantão, deixo meus parabéns e meu incentivo à autora do artigo.

    Quanto à pertinência da análise, basta que se analisem os eventuais contrapontos: não havendo nada além da grosseira desqualificação pessoal, da mentira e do achincalhe, restará claro que elles não possuem argumentos.

    Licurgo N. Neto

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  5. Relendo meu comentário, e fazendo uma reflexão, percebi que, num rompante de domingo, excedi-me, e findei por cometer certo deslize, ao desqualificar a articulista. Peço desculpas à autora e aos demais leitores, que têm opiniões diferentes. Todos nós exercemos, aqui, a faculdade do contraditório, e devemos limitá-la ao campo das idéias, das opiniões. Quem dera, em nossa mídia (tão eivada de vícios), houvesse espaços tão plurais, como o “Algumas Palavras”. Foi uma reação bem-humorada, que eu poderia ter amenizado; apesar dos excessos também cometidos pela socióloga Maria Lúcia, em alguns trechos de seu artigo. Um abraço a todos.

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