Por Kennedy Diógenes*
A história brasileira, desde seu remoto império, como propalou as pesquisas do jornalista Laurentino Gomes, condensadas em seu best seller, "1808", demonstra uma singular prodigalidade em matéria de corrupção.
Neste aspecto, os conchavos fechados na surdina, nos bastidores do Poder, a troca de favores toldada pelas vultosas doações de campanhas eleitorais, denunciando uma promiscuidade entre a coisa pública e privada, visaram manter as benesses nas mãos de uma elite improba, negligente, inebriada pelo próprio poder de tudo realizar impunemente, contrariando os conselhos do estadista norte-americano, John Kennedy, quando alertou que "é preciso fazer algo para ajudar os muitos que são pobres para se salvar os poucos que são ricos".
Não é a toa que o Brasil, há bem mais que uma década, deambula entre o 60º e o 70º lugar no ranking total de 163 países que adotam o Índice de Percepção de Corrupção, próximo de alguns países ditatoriais da África, ocupando, nas Américas, apenas o 14º lugar, em que pese sua pujança e potencialidades.
A síntese de todas essas barbáries à res publica foi expressa em uma célebre frase de Rui Barbosa, ainda no século XIX, quando afirmava que "de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".
No entanto, como disse Shakespeare, "os miseráveis não têm outro remédio senão a esperança", e esta, de tempos em tempos, brota nos corações dos brasileiros e os tira da inércia, como ocorreu nos grandes movimentos populares da Era Vargas, da ditadura, e de sua resistência, das Diretas Já, do Impeachment de Collor, dentre outros que encheram o peito dos mais apáticos de patriotismo e honra.
E, hoje, parece que o povo brasileiro vivencia mais um momento de esperança, como uma bruma que se estende pelos rincões do país, com a prisão cautelar de José Arruda, Governador do Distrito Federal, e seus principais assessores, decretada pelo Superior Tribunal de Justiça, ante a tentativa daquela gangue em frustrar a instrução processual.
Tal prisão, da mais alta autoridade do Poder Executivo do Distrito Federal, ainda que momentânea em face da sua natureza cautelar, possui, intrinsecamente, uma revolução paradigmática da concepção popular de que rico e poderoso não vai para a cadeia, mas somente o pobre, o desvalido.
Assim, há de se reconhecer o amadurecimento e fortalecimento do STJ, que respondeu com coragem e determinação, sem jeitinhos, sem acordos senão o da justa aplicação da lei, provando que, desta vez, nem tudo é "como dantes no quartel d'Abrantes".
Por fim, no arroubo da esperança, é possível clamar para que o Prof. Clementino Câmara tenha sido premonitório quando disse que "no futuro, a toga, e não o gládio, governará o mundo".
* Kennedy Diógenes é Advogado, Sócio de Díógenes, Marinho e Dutra Advogados, e Coordenador de Planejamento da Defensoria Pública do Estado.
Só torçamos para que esse governo da toga não vire uma ditadura...
ResponderExcluirMas, nesse caso do Governador Arruda, o STJ realmente merece aplausos. Espero agora que o temor do Min. Marco Aurélio, ao negar a liminar do HC impetrado no STF, de "autofagia" da Corte, não se concretize...
Porém, temos que reacender as chamas das nossas esperanças, pois, como foi dito, "nem tudo é como dantes no quartel d'Abrantes".