sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Os Blocos da Saudade

<- Foto de 1958.



Por Carlos Roberto de Miranda Gomes*

De repente, não mais que de repente, ressoam entre os devaneios de um setentão, os ecos de saudade dos velhos carnavais. Resolvi romancear alguma coisa sobre o tema e vieram à minha mente, tal qual a marcha-rancho do maestro Nelson Ferreira, nomes e fatos. Clementino Câmara puxava o bloco Geringonça do Nordeste, com a observação dos geniais Edgar Barbosa e Luís Soares. Bem perto passavam as troças ‘lambecu’ e ‘aparapeido’, liderada pelo menino Geraldo Queiroz.

Nesse encontro momesco estava também Tarcisio Gurgel com o estandarte da Escola de Samba “Belle Époque na esquina”, trazendo as cantigas mais antigas do nosso interland que certamente desfilaria pela Junqueira Aires, saudado por Cascudinho, D. Dhália e a menina Anna Maria.

Os meninos de Seu Sinzenando, Carlos e Fred com improvisação de tambores feitos de lata, corriam pegando morcego nos bondes da Cia. Força e Luz em busca de chegarem em tempo para o enduro do Hippie Drive-In.

Num botequim do Beco da Lama estavam Guga e Bob Mota cantando as sacanagens compostas para o carnaval, que não esqueciam a cueca e a meia recheadas de dinheiro e as propinas do Arruda, as borboletas, os tucanos, as araras e os bacuraus, algumas da autoria de Dozinho.

Enquanto isso eu me preparava para sair no desfile do bloco Deliciosos da Folia para uma acirrada disputa com os rivais Azes do Ritmo e Imperadores do Samba. Certamente vamos ganhar, pois nosso comando está com Odeman e temos em nosso elenco Natal, Lelé e seu trombone, Múcio Mago, Petit, Picado, Maurício, Daniel, Airton Leopoldo, Francisco Eider, Betinho o nosso porta-estandarte e tantos outros grandes foliões. Só rendíamos homenagem ao incrível `Aí Vem a Marinha’.

O Aéro Clube e o América estão ornamentados para os seus bailes e as fantasias estão sendo preparadas com esmero pelas meninas da cidade. Também o Alecrim Clube promete.

A briga é pela compra de lanças-perfume Rhodo e Rhodouro, que não chegam para quem quer, embora sobrem confetes e serpentinas.

A orquestra de Jonatas Albuquerque está com a corda toda, se preparando para tocar na Assen.

Djalma Maranhão, com Luizinho Doublecheque já estão concentrados na Cisne para começarem os trabalhos, aguardando apenas o Paulo Maux que ainda não terminou a sua fantasia, pois passarão em várias tribos de índios.

Os blocos já programaram os seus “assaltos” às casas mais abastadas de Natal, havendo ameaças de visitar também D. Maria Barros.

As famílias se organizam para o `corso´ na Deodoro e a multidão procura um lugar nas calçadas para brindar a alegria de Momo. No rádio, D.Helder afirma que carnaval é alegria e o cristão pode brincar sem excessos.

Todos têm a esperança de mais um período de alegria, em segurança e cordialidade como sempre tem acontecido até que a quarta-feira de cinzas amanhece e o carnaval todo mundo esquece entre os confetes e serpentinas pelo chão. Nos repiques dos sinos das igrejas – começa um outro tempo – a quaresma.

* Carlos Roberto de Miranda Gomes é jurista, historiador e escritor.

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