Finalmente no xilindró um condestável da República, o poderoso governador do Distrito (ou Detrito?) Federal, José Roberto Arruda, que teve a sua prisão preventiva decretada pelo ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, por mais uma pilantragem praticada pela quadrilha que montou a partir da máquina governamental daquela importante (e especial) unidade federativa. Cinco outros importantes membros do GDF (ex-deputado Geraldo Naves (DEM); Weligton Moraes, ex-secretário de Comunicação; Rodrigo Arantes, sobrinho do governador; Haroaldo Brasil de Carvalho, diretor da CEB [Companhia Energética de Brasília]; e Antonio Bento da Silva, conselheiro do Metrô).
Desta feita, o esquema corrupto comandado por Arruda tentou subornar um jornalista, conhecido como Edson Sombra, a quem encarregara de forjar provas contra os seus inimigos políticos, mediante o pagamento de R$ 200 mil.
Quando Antonio Bento da Silva entregava o dinheiro a Sombra apareceu a Polícia Federal. A maré não está para Arruda: o habeas-corpus liberatório que foi impetrado em seu favor, no Supremo Tribunal Federal, teve a liminar negada pelo ministro Marco Aurélio Mello, reconhecidamente um dos ministros mais liberais daquela Corte. Deve "comer" cadeia por alguns dias.
Para um país caracterizado pelo impunidade dos poderosos, já é alguma coisa; um símbolo de necessário para afastar essa pecha de paraíso da corrupção que nega as bases da República que de há muito tenta-se erigir nesta pindorama despudorada. Por falar em despudor, nenhum dos antigos parceiros e admiradores do encarcerado governador do Distrito Federal quer saber dele: Zé Roberto, atualmente um sem-partido, era um dos enfant gaté dos Democratas (e seus aliados tucanos); os "demos" conseguiram que ele saísse do partido por livre e espontânea pressão; o governador de São Paulo, José Serra, que num dado momento o desejou como seu companheiro de chapa rumo à presidência da República, está atormentado com um vídeo que está "bombando" no You Tube (veja em http://bit.ly/aGnEyN), em que diz, ao lado de um risonho Arruda: "Vote num careca e ganhe dois". Para Serra, o confrade Arruda seria vice que pediu a Deus: o único governador dos Democratas, bom de votos e careca como ele. Só não esperava fosse deflagrada a "Operação Caixa de Pandora" que, aberta, mostrou um Arruda mais para chefe mafioso que para alguém que poderia ocupar o segundo posto da República.
Andei lendo um bom texto do filósofo Renato Janine Ribeiro ("Folha Explica A República", disponível em http://bit.ly/4FJNCl), em que mostra, em linhas gerais, como a corrupção é deletéria à República. Há quase três décadas Janine Ribeiro, então jovem professor da Universidade de São Paulo, esteve em Mossoró a participar de uma das "Semanas de Filosofia" promovida por um grupo de visionários destas bandas (João Batista Xavier, Carlos Filgueira, Carlos Escóssia, este escriba e outros mais). Brilhante conferência ele fez, no antigo Cine Cid, salvo o engano. Com igual brilho, trata de dois temas delicados no texto referido: a questão da República (algo ainda não assimilado por estes Brasis, apesar dos 120 anos de sua implantação) e a corrupção (que todos os Brasis teimam em não abandonar...).
Vejamos o que diz Ribeiro, na conclusão do seu texto: "A corrupção continua, porém, sendo um tema republicano - só que com outro sentido, outro conteúdo. Ela ainda é o grande perigo para a república. Como esta valoriza o bem comum, todo desvio dele para o particular a ameaça. Mas nossa idéia de corrupção é mais fraca que a antiga. Chamamos de corrupção o furto do patrimônio público. Ora, isso faz esquecer que o bem público tem natureza distinta do bem particular ou da propriedade privada (...).
Uma saída para a pouca importância, hoje, do tema da corrupção seria apostar na educação. Diríamos: a corrupção ameaça a república, mas não se resume no furto do dinheiro público. O corrupto impede que esse dinheiro vá para a saúde, a educação, o transporte, e assim produz morte, ignorância, crimes em cascata. Mais que tudo: perturba o elo social básico que é a confiança no outro. Quem anda por nossas ruas, com medo até de crianças pequenas, e depois se espanta com a descontração das pessoas em outros países pode sentir o preço que pagamos por não vivermos numa república - por termos um regime que é republicano só de nome. A saída educativa é indispensável (...).
E será necessário, mais que tudo, recuperar - ou reinventar - a idéia de que haja algo, no espaço comum a todos, que seja mais do que um simples arremedo social da propriedade privada." Depois dessa lição é imaginar que, para nossa combalida República, somente a invocação, na língua de Cícero, o maior dos republicanos, segundo a qual a salvação da república é a lei suprema: Salus rei publicae suprema lex.
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