terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Desmanchando no ar



* Por Paulo Linhares

A coisa mais certa que Karl Marx escreveu, a direita faz questão de ignorar e a esquerda, quando ignora, é porque não faz questão de compreender esse que é o grande postulado da História: "Tudo o que é sólido desmancha no ar."
Claro que ele não falava de nuvens nem de pássaros, mas dos impérios, das civilizações, dos sistemas de pensamento e das estrutura econômicas, dos diversos modos de produção que determinariam os ciclos históricos e que eram continuamente superados por outros, surgindo e desaparecendo naturalmente.
Com efeito, nos diversos períodos históricos da humanidade, civilizações floresceram para, depois, desaparecerem. Algumas tão completamente e sem deixar vestígios. Povos inteiros, impérios e culturas se evaporaram da face da terra, restando somente referências imprecisas. Tudo natural. Assim tem sido.
Diante da inexorável força autônoma dos fatos que compõem o mundo (essa é do filósofo Wittgenstein...), as pessoas agaram cegamente nas diversas modalidades do determinismo que, segundo se escreveu na Wikipédia, nada mais é que "a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio, logo, destituído de liberdade total de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte, existe liberdade , mas esta liberdade condicionada a natureza do evento em um determinado instante".
Assim, na visão determinista (que teve grandes adeptos, como os filósofos Baruch Spinoza, Leibniz e Hippolyte Taine, além dos cientistas Pierre Simon Laplace e Albert Einstein, só para citar os mais famosos), imprimindo-se uma força e dando-se uma direção a certa bola de bilhar arremessada, ela tomará uma trajetória estabelecida a partir do seu arremesso.
Segundo o Método de Taine, a História era feita e o homem compreendido à luz de três fatores: meio ambiente, raça e momento histórico, a partir dos quais tudo era determinável. Todavia, nas coisas da natureza até que dá para engolir o determinismo, porque as variáveis podem ser dominadas quando conhecidas. Nos eventos humanos, na História, ele passa a ser desastroso, porque as suas variáveis são infinitas e dificilmente domináveis.
Não foi sem razão que Marx (novamente ele!) escreveu que "a História se repete como farsa," frase extraída do seu 18 Brumário de Louis Bonaparte. E assim é porque não admite amarras deterministas.
Na vida as acontecimentos não correm nos trilhos do determinismo. Ora, em análises sobre o momento político brasileiro, muitos palpiteiros já tinham como favas contadas a vitória do líder tucano, o governador José Serra (PSDB-SP). Poucos arriscavam nas possibilidades da ministra Dilma Rousseff, atual chefe da Casa Civil da presidência da República. As últimas pesquisas realizadas pela CNT/Sensus, divulgadas em 1° de fevereiro de 2010 mostra números estonteantes: 1) Perguntado sobre quem votaria para presidente em 2010 (pesquisa espontânea), os entrevistados disseram: Lula, 18,7%; Dilma Rousseff, 9,5%; José Serra, 9,3%; Aécio Neves, 2,1%; Marina Silva, 1,6%; Ciro Gomes, 1,2%; outros, 1,9%; branco e nulo, 2,6%. Lula, que nem candidato pode ser, vai disparado na frente, seguido de Dilma... Na pesquisa estimulada, o resultado foi mais surpreendente: José Serra, 33,2%; Dilma Rousseff, 27,8%; Ciro Gomes, 11,9%; Marina Silva, 6,8%; sem candidato, 20,4%. Inegável que há uma tendência de crescimento em favor da ministra Dilma Roussef, que poderá fazê-la vencedora das eleições de outubro próximo.
O favoritismo de José Serra, cantado e decantado aos quatro ventos, desmanchou no ar. Não sei como nem porque. Sei que Lula de D. Lindu, o padrinho da candidatura de Dilma, tem o seu desempenho pessoal situado, segundo a CNT/Sensus referida, em 81,7% de aprovação, contra uma desaprovação de 13,9%. Em novembro de 2009, a aprovação do desempenho pessoal de Lula situava-se em 78,9% e a desaprovação, em 14,6%! Com um padrinho desses, amigo Chico Pinto, até nós, que não temos votos para bater nos peitos de um mísero peba, arriscaríamos um olho.
E aos deterministas de plantão, um aviso útil: uma eleição somente é decidida quando todos os votos forem contados.
* Paulo Afonso Linhares é Defensor Público Geral do Estado, Professor de Direito, Pesquisador e Escritor.

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