Por Paulo Linhares*
A pátria não apenas calçou as chuteiras como engalanou-se de atavios auriverdes, na tão desejada conquista do "Hexa", uma palavra mágica para designar a almejada sexta copa do mundo de futebol a ser conquistada pelo Brasil. Uma cruzada mística a ser levada às longínquas e exóticas terras da África do Sul. A essa temporária Meca futebolística acorreram, nestes meados de 2010, várias outras seleções, todavia, nenhuma com as travas das chuteiras tão altas quanto a chamada "Seleção Canarinha". Ostentando o pomposo título de "reis do futebol", os jogadores comandados pelo turrão Dunga passavam a impressão de que seriam hexacampeões mundiais da copa organizada pela poderoso Fifa sem entrar em campo. A mesma besteira que cometem os acólitos de certos candidatos "governador de férias". A rede Globo, emissora oficial da Copa, também dá a sua (enorme) contribuição para mistificar o evento.
Finalmente começou a Copa. O Brasil parou, sobretudo nos dias de jogos. Em campo a Canarinha ganhou com dificuldade para times safados como o da Coréia do Norte e o Costa do Marfim. Diante do escrete de Portugal, a seleção de Dunga (não a nossa, que teria necessariamente o meia Paulo Henrique Ganso e o atacante Neymar, para compor com o outro santista Robinho um triângulo mágico que encantaria o mundo na África do Sul, a exemplo do que o Brasil fez na Suécia, na Copa de 1958, com Pelé, Garrincha e Vavá) não descolou do zero a zero, uma droga de jogo embora restasse o consolo de que ele, o chato do Dunga, "jogava com o regulamento debaixo do braço", como se diz no jargão desportivo: o Brasil era o primeiro lugar de sua chave e era isso que importava. Para que ir para cima dos irmãos lusitanos, com os riscos de contusões e expulsões, se o primeiro lugar estava garantido? Tinha lógica, engolimos em seco.
O próximo desafio era enfrentar a seleção da Holanda, nas Quartas-de-Finais, em 02 de julho. Começou bem, com um fantástico gol de Robinho. Depois o Brasil "travou" literalmente e nada mais fez até o fim do primeiro tempo de jogo, embora mantivesse o domínio do jogo. No segundo tempo a esquadra holandesa mudou completamente o jogo, impondo seu domínio paulatino em todos os setores do campo, o que lhe rendeu dois gols bestas e improváveis, mas o suficiente para carimbar os passaportes de Dunga e seus rapazes, de volta para casa. Desta feita o nosso algoz foi o carequinha Wesley Sneijder, meio-campista da seleção holandesa e autor do gol de cabeça que jogou por terra o sonho do tetra.
As lágrimas, gargantas embargadas, desalento generalizado são a marca de mais um "naufrágio" do escrete canarinho, que aliás, vestiu azul contra os holandeses cor-de-laranja e a sorte então mudou, para pior. Entretanto, o que se imaginava como um Armagedom brasileiro, em pouco tempo foi posto no lugar devido: foi apenas uma partida de futebol perdida pela seleção (do Dunga e do Ricardo Teixeira) brasileira. Ganhando ou perdendo, o escrete nacional, mais uma copa do mundo nada, absolutamente nada, muda em nossas vidas. Tudo bem, gostamos de futebol e vamos para a frente da TV de "coração na mão" todas as vezes que a seleção entra em campo, seja para um amistoso caça-níquel, seja num jogo de final de copa do mundo, mas isso não quer dizer que se a seleção levar um surra a lua cai uma banda. Coisa nenhuma! É apenas uma competição desportiva, onde vitória e derrota são faces de uma mesmíssima moeda.
Com os meninos do Dunga a voltar para casa com os rabinhos entre as pernas, espera-se que o Brasil volte a trabalhar. Nada de desespero: o Hexa virá em 2014, quando o Brasil será anfitrião da Copa da Fifa. Se não vier, virá em 2018 ou em 2022, enfim, a cada quatro anos a nossa esperança se renova. Chegaremos lá.
* Paulo Afonso Linhares é Defensor Público Geral do Estado, Professor, Escritor e Pesquisador.
Muitas seleções levaram grandes craques, mas não tiveram sucesso. Messi lutou, mas não produzi muita coisa. Cristiano não fez nada de novo. Se Ganso tivesse ido, nada teria acontecido. Nós tínhamos na copa bons jogadores, mas isso não bastava. A Globo conseguiu o queria: a crucificação de Dunga. O Teixeira foi rápido e deselegante.
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