domingo, 10 de outubro de 2010

O Fator Marina?

Por Paulo Linhares*

Na reta final da atual campanha eleitoral era perceptível o crescimento da candidatura à presidência da acreana Marina Silva, do Partido Verde. Fato é que, a despeito de tantos factóide criados pelos partidários da candidatura presidencial de José Serra, do PSDB, contra a igualmente candidata Dilma Rousseff, esta caminhava para uma vitória ainda no primeiro turno de votação.

Dilma amiga dos terroristas das Farc, Dilma a favor do  aborto, Dilma que teria dito que nem Jesus impediria sua vitoria, Dilma quebradora de sigilo fiscal de tucanos etc. Mentiras e baixarias a perder de vista, sobretudo na grande rede de computadores, inclusive, com o uso de programas informacionais maliciosos e  vírus. 

Esse é bem o estilo Serra de fazer política, sempre baseado na possibilidade de moralmente quebrar a espinha dorsal de seus adversários a partir de uma guerrilha de dossiês. Porém, como o povo não é assim tão besta, grande parcela do eleitorado levou em conta esses factóides e sufragou maciçamente o nome da petista Dilma, atribuindo-lhe quase cinquenta milhões de votos. 
Nunca uma cidadã foi rudemente agredida, do ponto de vista moral e em escala nacional, quanto a Srª Dilma Rousseff tem sido. Nem os 47 milhões de votos de brasileiros de todas as extrações foram suficientes para deter as mentes deformadas e suas criações audaciosamente chulas, cuja intenção maior é  desqualificar o debate político e emascular a discussão (imprescindível) sobre as principais questões nacionais, mesmo porque se no primeiro turno das eleições presidenciais havia a balbúrdia de tantos candidatos e  propostas jogadas para apreciação do eleitor, agora restou o confronto (real e concreto) dos dois mais consistentes projetos para o Brasil: aquele defendido pelos setores conservadores articulados no PSDB, no DEM e noutros partidos de menor expressão; e o projeto que engloba amplos setores progressistas, no campo da esquerda, do centro-esquerda e até do centro, que vai do PT, PSB, PC do B, PDT até o PMDB, o PP e o PR. 
No frigir dos votos, o segundo turno da eleição presidencial somente ocorreu porque  Marina recebeu mais de 19 milhões de votos que somados aos 33 milhões de José Serra ultrapassam os dados a Dilma. A peleja continua e apesar da vantagem enorme de Dilma, tudo vai ser resolvido no próximo dia 31 de outubro de 2010. Claro, ambos petistas e tucanodemos cortejam Marina Silva e seu partido, o PV, como se fossem esses os donos desse cabedal de 19 milhões de votos. 
Ora, todas as análises mostram que a motivação desses votos, em grande medida, infelizmente não diferem daqueles dados, no passado, ao rinoceronte Cacareco, ou dos votos atribuídos, no pleito do dia 3 passado, ao palhaço Tiririca.
De modo ser muito difícil saber, agora, qual o potencial desse "efeito Marina" no segundo turno, sabendo-se que, mantidos os votos de Serra e de Dilma obtidos no primeiro turno, esta precisa apenas de uma parcela bem pequena dos votos de Marina para se eleger. Já José Serra precisa de quase uma milagre para capturar os 14 por  cento desses votos para se tornar inquilino do Palácio do Alvorada. Como os milagres são difíceis nestes tempos bicudos de tanta descrença e de pouquíssima fé, haja mentiras, sandices, baixarias e outras coisas mais nos costados de Dona Dilma. 
Contudo, nunca foi razoável atiçar o fogo com a espada, segundo preceito do filósofo Pitágoras referido por Diógenes Laércio, mesmo porque já de há muito se sabe que quem com a espada fere, com a espada perece. Qui gladio ferit gladio perit! Aguardemos, pois, o desenrolar desse novelo.
* Paulo Afonso Linhares é o Defensor Público-Geral do Estado, professor e escritor.

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