domingo, 10 de outubro de 2010

Simpáticos e Sorridentes

Por Aluísio Azevedo Jr*

Fico preocupado, em tempos de eleição, quando o foco da discussão política é desviado, especialmente, quando decidimos quem vai ocupar o cargo político mais importante do Brasil.

Campanhas sorrateiras inventam informações, requentam notícias, até misturam religião com Política. Os “Projetos” ficam esquecidos; desses, ninguém fala; ninguém os discute.

Quando utilizo o termo “Projetos” não estou falando da construção de pontes, estradas, prédios. Muito menos da liberação do aborto, da proibição de bíblias nas escolas, da implantação de sistemas guerrilheiros das Farc no Brasil (sic). Estou me referindo à forma de conduzir o país, às prioridades, às escolhas políticas. A isso denomino “Projeto de Governo”.

Fala-se em moralidade, ficha limpa, ótimo. Mas, uma ficha limpa é condição básica, não diferencial. Preenchida esta condição básica, voltemos aos Projetos de Governo, à forma de conduzir a Nação. Pois, temos diferenças a considerar.

Os governos do PSDB foram marcados pela política neoliberal. Promoveram a privatização do país, venderam nossas jóias da coroa, e entregaram-nas em mãos de empresários financiadores de campanha. A reeleição de FHC somente foi possível, graças a uma vergonhosa compra de votos e posições no Congresso.

O PSDB criou no Brasil um modelo de Agências Reguladoras, ao feitio britânico, e tentou retirar o Estado de algumas atividades importantes. A telefonia é nosso exemplo mais gritante. Vendemos as nossas empresas mais valiosas, em troca de moedas podres, em triangulações com fundos de pensão governamentais ou com financiamentos do próprio BNDES. Ou seja, foi possível comprar, sem desembolsar dinheiro. Um negócio de bilhões de Dólares, extremamente lucrativo, em função dos preços ao consumidor, posteriormente permitidos. A telefonia brasileira ganhou modernidade, mas tornou-se a mais cara (e lucrativa) do mundo. E os escândalos de corrupção ganharam mais uma fonte financiadora.

A avalanche de privatizações já se alargava quando a nação brasileira gritou e conseguiu estancá-la. A Petrobrás já estava virando “Petrobrax” e o Banco do Brasil seria “Banco Brasil”, nas pranchetas dos projetistas tucanos.

O PSDB promoveu as primeiras experiências de mensalões. Derrubou patentes de medicamentos, para criar os “genéricos”, que se tornaram mais caros do que seus medicamentos de referência. O que um fabricante faz com a margem de lucro desse negócio? Possivelmente, reinvestiria na mesma fonte concedente da regalia lucrativa.

O PSDB entregou ao sucessor de FHC, em 2002, um Brasil atolado em dívidas, com taxas de juros estratosféricas, devendo ao FMI, em profunda crise econômica. E, absurdamente, debitou tudo isso aos rumores (plantados por ele mesmo) de que o novo Presidente descumpriria contratos e regras de mercado.

E tem, agora, a coragem de afirmar que os 8 anos seguintes de governo somente foram bem-sucedidos por golpes de sorte. Commodities em alta e, pasmem, o grande desenvolvimento que o mundo experimentava. A crise de 2009 calou a boca dos gênios Psdbistas. O motor econômico do mundo travou, e o barco do Brasil continuou flutuando, seguindo em frente, sob a condução de um timoneiro "cachaceiro, burro, despreparado, nordestino arrogante" (sic).

Eu gostaria de saber como essas correntes conservadoras vão apagar a história. Não duvido que consigam. Mas, o Brasil assistiu ao refazimento da auto-estima de seu povo, posicionou-se na geopolítica mundial, como um ator importante, fez a maior inclusão sócio-econômica da população de baixa renda, em sua história, retirando pessoas da condição de pobreza extrema. E este “Projeto”, que viabilizou tantas conquistas, deve ser trocado pelas promessas do velho e conhecido grupo de vendedores de estatais?

Para que o Estadão, a Folha de São Paulo, a Band-Ruralista, os grupos econômicos interessados, o PSDB e o quase extinto DEM tenham sucesso na empreitada, eles precisam usar algum alucinógeno de efeito rápido, um aspergir inebriante, temporário. Eles podem até trocar o foco da discussão, convocando as Reginas Duartes de plantão.

Eu ainda prefiro discutir modelos. Respeito quem possui pensamentos diferentes. Claro que todos têm pontos fortes e fracos. A Democracia se fortalece com o estabelecimento do contraditório (raríssimo na mídia nacional). Mas, num processo de análise das alternativas POLÍTICAS, uma volta à era PSDB não faz parte de minhas escolhas.

Por isso, não consigo votar no "simpático e sorridente" (sic) José Serra. E prefiro votar na também "simpática e sorridente" (sic) Dilma.

Aluísio Azevedo Jr é empresário, escritor e consultor.

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