Por Kennedy Diógenes*
“A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora José?”.
Essas poucas linhas poéticas de Drummond, imortalizadas no poema JOSÉ, poderiam, sem muita imaginação, expressar o sentimento de José Serra, candidato derrotado no pleito presidencial deste 31 de outubro, no seu “the day after”.
Na verdade, essa indagação parece repercutir além de Serra, encontrando guarida no âmago de uma Oposição atônita, destroçada pelas significativas perdas de seus baluartes que não conseguiram se reeleger neste pleito, a exemplo do PSDB, como seu líder, Arthur Virgílio (AM), o ex-presidente da legenda, Tasso Jereissati (CE) e Papaléo Paes (AP), ou do outrora poderoso Democratas, como o ex-vice-presidente Marco Maciel (PE), que sofreu a sua primeira derrota desde 1966.
Os analistas políticos creditam, à vitória de Dilma Roussef, ao carisma de Lula, que goza da maior aprovação popular de um presidente em toda a história brasileira, além da desarticulação Oposicionista causada por ela própria, que não demonstrou competência, seja na composição da chapa, com um vice sem grande expressão nacional, seja na escolha da estratégia de campanha, que optou por acusações pessoais, discussões vulgares e acaloradas, em detrimento do enfrentamento dos temas importantes para o Brasil, como reformas política e tributária, situação da previdência e orçamento, entre outros.
Apesar disso, como diria Charles Dickens, cada fracasso ensina ao homem que tem algo a aprender; e a Oposição deve tirar dessa derrota nas urnas algumas importantes lições, tais quais a de restabelecer uma agenda programática em sintonia com os anseios populares, inclusive com discussão e efetiva implementação de políticas estruturantes, fortalecimento da base e concentração de esforços para realizar uma oposição responsável, além de outras medidas imperativas para a sua sobrevivência.
É um fato que, para uma Democracia forte, a oposição é imprescindível, pois tende a elevar os debates das grandes questões nacionais, propõe alternativas e fiscaliza os projetos governamentais que oneram os cofres ou penalizam o povo, além de revelar pontos obscuros ou atentatórios às liberdades e garantias individuais e coletivas. A Oposição equilibra o jogo de forças políticas inerentes às democracias.
Por isso, é salutar que haja mesmo, como se tem especulado, a extinção de partidos que ficaram nanicos, a criação de outro partido, provavelmente engendrada pelo Senador recém-eleito Aécio Neves, reconciliando as várias vertentes oposicionistas, e a concentração de lideranças, visando uma rápida adequação ao novo panorama político pós-Lula.
Enfim, após a ressaca das eleições, somente resta à Oposição, como reflete o adágio popular, levantar, bater a poeira e dar a volta por cima, auxiliando o próximo Governo na difícil tarefa de diminuir as desigualdades sociais e propiciar o bem-estar coletivo.
* Kennedy Lafaiete Fernandes Diógenes é Advogado, sócio do Escritório Diógenes Marinho e Dutra Advogados e Coordenador da Defensoria Pública do Estado.
Perfeita sua análise, caro Kennedy. O Brasil é, definitivamente, bem maior do que interesses politiqueiros menores.
ResponderExcluirAbraços.
Osiris.