Públio José*
É certo que Jesus Cristo, em seu ministério pelos territórios da Judeia, Galileia e Samaria, sempre manifestou apego especial pelas crianças, a quem, por diversas vezes, nomeou de pequeninos. É célebre, mesmo entre os incrédulos, a passagem que enfoca o assunto (Mc. 10.14). Nela, Jesus se indigna pela insensibilidade dos apóstolos ao tentarem impedir o acesso a ele de várias crianças. “Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus”. Em seguida, realçando a pureza e a santidade infantis, atributos indispensáveis no reino ao qual se referia, arrematou: “Em verdade, em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. E, tomando-as nos seus braços e impondo-lhes as mãos, as abençoou” – tal gesto significando, de sua parte, amparo, carinho, proteção, além de exemplo por nós a ser seguido.
Portanto, tanto nestas como em inúmeras outras passagens de sua vida terrena, Jesus deixou bem claro o prioritário, indispensável e amoroso tratamento às crianças como ponto fundamental à fé cristã. Tal ensinamento se vê bem pautado em Mateus 18.1-4: “Naquela mesma hora, chegaram os discípulos aos pés de Jesus, dizendo: Quem é o maior no Reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, a pôs no meio deles e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus”.
Entretanto, em outras ocasiões, Jesus elasteceu o significado do termo “pequenino”, enquadrando nele pessoas fragilizadas pelas circunstâncias da vida – mesmo as adultas. Em Mt. 18, desta feita no versículo 6, Jesus já emprega o termo de forma mais abrangente ao utilizá-lo no plural, certamente referindo-se a vários “pequeninos” ali presentes.
“Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”. E no versículo 11: “Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido”. Essa, com certeza, é linguagem para “pequeninos adultos”, pois os “pequeninos infantis” não se enquadram na concepção de “perdidos” a que Jesus se refere. Nosso grifo objetiva demonstrar que Jesus, na ocasião, expandiu o conceito de pequenino para pessoas ali presentes, já convertidas, que já o seguiam, já o aceitavam pela fé – portanto, pessoas adultas. De outro modo não as teria nomeado como “pequeninos que creem em mim”, pois criança, cronológica e biologicamente, não tem preparo intelectual, nem discernimento, nem maturidade suficiente para analisar, considerar e crer em um complexo discurso de conteúdo espiritual.
Assim, para Jesus, crianças e adultos são seus pequeninos – principalmente quando fragilizados pelas agruras da vida – mesmo os bem forrados materialmente. Tal conceito independe se a condição de pequeninos se materializa através de problemas de ordem pessoal, familiar, profissional, política, econômica... Ou mesmo, quando pobres, se marginalizados de políticas assistenciais de governos ou de outros órgãos cuja competência é de tê-los sob cuidados – e que não vem cumprindo a atribuição. E agora? A quem cabe cuidar dessas demandas se seus responsáveis delas não tomam conhecimento? O próprio Jesus se avoca o direito: “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e oprimidos, e eu vos aliviarei (Mt. 11.28)”. Como se vê, o convite é um só: “Vinde a mim”. Extensivo tanto a “pequeninos pequenos” como a “pequeninos grandes”. Por sinal, como você está agora? Pequenino?
* Públio José é jornalista.
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